GREP Disserta

GREP Disserta

Este é um espaço reservado para @s participantes do GREP - Grupo de Estudos em Psicanálise - debaterem quinzenalmente um tema levantado pelo grupo, algo que seja relevante e que enseje reflexão da comunidade acadêmica e da população geral sobre temas cotidianas e caros à psicanálise. A ideia desta coluna, portanto, é que @s própri@s estudantes se mobilizem a produzir uma reflexão pertinente e socialmente importante.

Publicado em 20 de junho de 2018

Karina de Araújo Ferreira, Karina de Oliveira Fialho e Nismaira Caetano de Paula. Supervisora: Luciana Cavalcante Torquato.

A quem diz respeito a sua vida sexual?

PRECISAMOS FALAR SOBRE ISSO!

“Estilo de vida gay pode reduzir expectativa de vida, afirma padre” (ARAGÃO, 2012).

“Em 2017, 445 lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBTs) foram mortos em crimes motivados por homofobia. Maior índice de mortos no Brasil há 38 anos” (CIEGLINSKI, 2018).

“Pesquisa sobre a Diversidade mostra que 51% dos paulistanos já foram ou viram outra pessoa sendo vítima de preconceito de gênero ou orientação sexual em espaços públicos.” (SANTIAGO, 2018).

“Estudante da UFV diz que foi vítima de homofobia ao ser agredido em república” (G1, 2017).

“Época triste a nossa, em que é mais difícil

quebrar um preconceito, do que um átomo.”

(Albert Ainstein)

As frases explanadas acima foram localizadas a partir de um rastreamento feito pela plataforma digital Google com os termos “LGBT” e “notícia”, e a partir de então um emaranhado de publicações referentes a estas irromperam. Porém, lamentavelmente, os resultados só evidenciam o que o mundo inteiro já vem presenciando: a intolerância.

“A psicanálise é uma experiência cuja fonte é o amor” (Jacques-Llain Miller) e como estudantes de um grupo de estudos em psicanálise, e anterior a isso, como seres humanas, precisamos falar sobre isso. Para quê tanto ódio e opressão? Não lhe parece bizarro que a vida sexual do Outro desperte tanto incômodo a ponto de pessoas se sentirem no direito de insultarem, violentarem e até causarem mortes devido a esta escolha, que é do Outro? O termo homofobia designa, mais que um preconceito, uma reação emocional à presença de homossexuais (ou presumidos homossexuais), num leque que vai do desconforto à ansiedade, ao medo e, por fim, à raiva e à agressão. Podemos dizer então que a intolerância, a homofobia vem como um medo ao que é desconhecido?  Ou então, diria Freud, é tão conhecido, que não dou conta de lidar com isso...

Bom, esta notícia está dando “pano pra manga”, uma vez que a intenção inicial era associar a bissexualidade psíquica constitucional de todos os seres humanos, postulada pelo nosso estimado pai da psicanálise, Sigmund Freud, à intolerância, neste caso, a homofobia. Você pode estar se perguntando, mas qual a relação existente? Foi exatamente essa a pergunta que nos fizemos e estamos tentando responder. E a partir de então que começaram os questionamentos. Mas desenvolveremos nossa argumentação com base no que estudamos em sala de aula e no (GREP) – Grupo de Estudos em Psicanálise.

Para Freud, a bissexualidade é uma disposição inata do ser humano, tanto no nível físico como no psíquico, ou seja, cada um de nós compreendemos uma parte masculina e feminina ao nascer.  Em uma carta escrita a Fliess, Freud argumenta acerca da nossa predisposição à bissexualidade, e ao longo do desenvolvimento, acabamos por reprimir o desejo pelo mesmo sexo (tornando-nos heterossexuais) ou o desejo pelo sexo oposto (tornando-nos homossexuais). E seguimos carregando vestígios e aspectos da sexualidade que foi recalcada, devido à predisposição para a bissexualidade.

A partir de agora, parece que as coisas vão se clarificando. Lembram-se do questionamento acima relacionado ao ódio e opressão a homossexuais? Contardo Caligaris (2011) discursa em um texto sobre homofobia e homossexualidade que quando nossas reações são excessivas, deslocadas e difíceis de serem justificadas dizem de um conflito interno. Por que afinal me incomodaria meu vizinho ser homossexual e beijar outro homem na boca? Continua sua explicação argumentando que se estamos com dificuldades de conter a própria homossexualidade, então é mais fácil tentar reprimir a homossexualidade dos outros, ou seja, condená-la, persegui-la e reprimi-la, se possível até fisicamente, porque isso ajuda a conter a própria. 

Bom, visto isto, com toda esta teoria construída, o que é possível fazer diante isso? O que nós enquanto cidadãs, futuras profissionais da psicologia podemos contribuir para reduzir a intolerância com homossexuais? O que vocês, carxs leitorxs, podem fazer para melhorar esta lastimável situação?  

Terminamos este texto com um trecho da carta de Freud (1953) à mãe de um homossexual:

“Não tenho dúvidas que a homossexualidade não representa uma vantagem, no entanto, também não existem motivos para se envergonhar dela, já que isso não supõe vício nem degradação alguma. Não pode ser qualificada como uma doença e nós a consideramos como uma variante da função sexual [...]

[...] A análise pode fazer outra coisa pelo seu filho. Se ele estiver experimentando descontentamento por causa de milhares de conflitos e inibição em relação à sua vida social a análise poderá lhe proporcionar tranquilidade, paz psíquica e plena eficiência, independentemente de continuar sendo homossexual ou de mudar sua condição”.   

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAGÃO, Jarbas. Estilo de vida gay pode reduzir expectativa de vida, afirma padre. Acesso em: https://noticias.gospelprime.com.br/estilo-de-vida-gay-pode-reduzir-expectativa-de-vida-afirma-padre/. 2012.

CALIGARIS, Contardo. Acesso em: < http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1011201119.htm>. 2011.

CIEGLINSKI, Amanda. Levantamento aponta recorde de mortes por homofobia no Brasil em 2017. Acesso em: < http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2018-01/levantamento-aponta-recorde-de-mortes-por-homofobia-no-brasil-em>, 2018.

CRUXÊN, Orlando Soeiro. A homofobia no campo psicanalítico. Psicanálise & Barroco em Revista, v. 14, n. 1, 2018.

G1. Estudante da UFV diz que foi vítima de homofobia ao ser agredido em república, Acesso em < https://g1.globo.com/mg/zona-da-mata/noticia/estudante-da-ufv-diz-que-foi-vitima-de-homofobia-ao-ser-agredido-em-republica.ghtml >, 2017

SANTIAGO, Tatiana. Público LGBT sofre mais preconceito em espaços públicos e no transporte em SP, diz Rede Nossa SP. Acesso em < https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/publico-lgbt-sofre-mais-preconceito-em-espacos-publicos-e-no-transporte-em-sp-diz-rede-nossa-sp.ghtml >, 2018.


Fonte: https://academico.univicosa.com.br/uninoticias/noticias/grep-dierta