Clínica Veterinária realiza reabilitação de tamanduá ferido 

Clínica Veterinária realiza reabilitação de tamanduá ferido 

Por Letícia Bergo*

Publicado em 17 de dezembro de 2019

Professora Letícia Bergo durante procedimentos clínicos.

A biodiversidade da América Latina é considerada uma das mais expressivas da biosfera terrestre. Nos diversos ecossistemas presentes nessa área geográfica, encontramos uma grande complexidade de interações entre seres vivos, e destes com o ambiente. Essas interações compõe uma teia elaborada de relações, que tem o seu equilíbrio dependente de cada ser vivo ali existente. Inúmeros fatores dependem do equilíbrio desta teia, como a abundância e a distribuição de espécies no espaço e o microclima regional, elementos que podem ter impacto direto no bem-estar e saúde humana, ao prover produtos básicos e serviços ecossistêmicos.

Os tamanduás compõe essa rede complexa de interações ecológicas nos ecossistemas sul-americanos. Os tamanduás são mamíferos placentários pertencentes à ordem Pilosa, existem três espécies registradas em território brasileiro, o Tamanduaí (Cyclopes sp.), Tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla) e Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla). Sendo que, os dois últimos, ocorrem na Zona da Mata Mineira. O tamanduá é um predador de formigas e cupins considerado essencial para o controle das populações destes artrópodes na natureza.O Tamanduá-mirim, por exemplo, pode consumir em média, 9 mil indivíduos por dia. 

Os tamanduás estão ameaçados pela constante redução do seu hábitat natural, os biomas brasileiros estão sendo ocupados por atividades agropecuárias e pela expansão urbana. Como consequência dessa ocupação, observamos ameaças como contaminação da água e do solo por resíduos de esgoto, industriais e agrotóxicos, poluição do ar e do ambiente, queimadas, introdução de espécies exóticas e domésticas em ambiente silvestre e o aumento da malha rodoviária sem medidas de proteção à fauna. Ao se deslocarem por ambientes modificados pelos humanos, os animais silvestres ficam susceptíveis a diversos riscos, como predação e atropelamentos.

Durante o mês de novembro, a equipe da Clínica Veterinária Escola da Univiçosa teve sua rotina alterada por um paciente diferente dos habituais cães, gatos, coelhos e calopsitas. Dessa vez o paciente era um Tamanduá-mirim que foi resgatado caído às margens de uma rodovia, no bairro Novo Silvestre, pelo 3º Pelotão do Corpo de Bombeiros Militar de Viçosa/MG. Por ter uma docente especializada em clínica de animais silvestres e pets não convencionais, a Médica Veterinária Letícia Bergo, a Clínica Escola da Univiçosa atende frequentemente animais silvestres resgatados com problemas de saúde. Porém, esse é o primeiro paciente tamanduá.

     

O quadro do animal era instável, apresentava fraturas em quatro costelas, osso coxal e fêmur esquerdo, estava sem se mover porque sentia muita dor. Devido a este achado, e ao fato de ter sido encontrado às margens da rodovia, suspeita-se que tenha sido vítima de atropelamento. Apesar das múltiplas fraturas, o estado geral do paciente estava bom. A equipe veterinária liderada pela professora Letícia Bergo constatou que se tratava de uma fêmea jovem, prestes a iniciar a vida reprodutiva, um indivíduo extremamente importante para uma população. 

A equipe optou por realizar a correção cirúrgica do fêmur, para as outras fraturas procedeu-se tratamento conservativo que favorecesse a consolidação óssea. Após a cirurgia, a paciente permaneceu sendo medicado e sob observação por três semanas. Dada a alta clínica, ela foi encaminhada para o Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) de Juiz de Fora para acompanhamento, até sua completa recuperação e posterior destinação.

De acordo com a professora Letícia Bergo: “Nos despedimos deste paciente com grande esperança de que, em breve, esteja apto para retornar à natureza. É uma grande satisfação poder ajudar um animal que não teria chances de sobreviver, e uma oportunidade de aprendizado para nossos estudantes, que puderam acompanhar um procedimento cirúrgico e diversos procedimentos clínicos em uma espécie incomum na nossa rotina. Os estudantes extensionistas dos projetos CASPE (Clínica de Animais Silvestres e Pets Exóticos) e GEAS (Grupo de Estudos de Animais Selvagens) deram total suporte por todo esse período, inclusive fins de semana e feriados, nos cuidados diários e tratamento do paciente”.

É importante ressaltar que somente os órgãos ambientais competentes podem destinar e soltar animais silvestres na natureza. Médicos veterinários e clínicas veterinárias podem, e devem, prestar assistência para salvar a vida destes animais, porém, após o tratamento, estes pacientes devem ser encaminhados para instituições governamentais que cumpram esse papel de destinação de animais silvestres, assim como são os CETAS.

*Letícia Bergo Coelho Ferreira, professora da disciplina Animais Silvestres do curso de Medicina Veterinária e coordenadora dos projetos CASPE e GEAS.


Fonte: https://academico.univicosa.com.br/uninoticias/noticias/clinica-veterinaria-realiza-reabilitacao-de-tamandua-ferido