Caso raro é atendido na Clínica de Grandes Animais

Caso raro é atendido na Clínica de Grandes Animais

A bezerra da raça Senepol, Rubi, trazida de Além Paraíba, percorreu cerca de 180km e teve a sua vida renovada após os cuidados de profissionais e alunos da Medicina Veterinária. 

Publicado em 25 de setembro de 2019

Uma equipe multidisciplinar de professores e alunos esteve envolvida no processo de recuperação da Rubi.

* Da esquerda para a direita, parte da equipe: Lucas Andrade Rosa, Marina de Queiroz Pires, João Pedro Bueno Sartori, Vinícius Florentino Dias de Moura, Danilo Manzini Macedo, Prof. Pedro Carvalho, Maria Machado, Prof. Guilherme Castanheira, Vítor Figueiredo Coura, Prof. Guilherme Costa Fausto e Marina Lúcia da Silva Oliveira.

Recentemente, a Clínica de Grandes, como carinhosamente chamamos o setor de Clínica e Cirurgia de Grandes Animais da Univiçosa, amanheceu diferente. Logo cedo, estudantes do curso de Medicina Veterinária já estavam por ali. Eles aguardavam alguém, e o tom das conversas era baixo, como se não quisessem acordar uma paciente. Uma paciente especial.

Era o dia da alta da Rubi, uma bezerra da raça Senepol que permaneceu aos cuidados de uma grande equipe de veterinários e estudantes por cerca de quatro meses. Seu tutor, o empresário Arthur Gabri, percorreu cerca de 180 km, vindo de Além Paraíba, para buscá-la. Por isso todos estavam ali: para a despedida da protagonista de um caso desafiador.

Vamos entender o caso da Rubi?

A Rubi nasceu em Além Paraíba no início de 2019. Ela tem 48 irmãos e foi gerada com o uso da Fertilização in vitro (FIV), uma técnica de reprodução assistida comumente utilizada em animais de alto valor genético.

Já durante o seu nascimento, foi constatada uma alteração em uma das patas. A Rubi apresentava uma alteração óssea no metatarso esquerdo, que é um dos ossos do membro traseiro. Em bezerros cujos membros não possuem alterações, este osso deveria ser quase reto, no entanto, no caso da Rubi, ele era bastante curvo, o que dificultava muito seu apoio ao chão.

O tutor da Rubi, Arthur Gabri, procurou alguns veterinários da região onde mora e todos foram categóricos: conforme fosse crescendo, a Rubi desenvolveria outros problemas e certamente não sobreviveria. O empresário, então, recebeu de um conhecido a indicação da Clínica de Grandes da Univiçosa e trouxe a Rubi para ser avaliada.

De acordo com os médicos veterinários e professores da Univiçosa, que estiveram à frente do caso, Guilherme Costa Fausto e Pedro Henrique de Araújo, a causa mais provável para a alteração óssea da bezerra teria sido a ocorrência de um trauma intrauterino, que resultou na fratura e resolução antes mesmo de seu nascimento. Ainda segundo os médicos veterinários, este caso é extremamente raro, pois no útero, o feto é protegido por diversas camadas, e caso ocorra alguma alteração, o resultado mais provável é o aborto.

A equipe da Clínica chegou à conclusão de que a realização de uma cirurgia ortopédica era a única alternativa viável. Embora o objetivo fosse dar maior qualidade de vida à Rubi, este tipo de procedimento em grandes animais é extremamente difícil e com poucas chances de sucesso.

Com a autorização do tutor, optou-se por realizar a cirurgia e fazer a colocação de placas metálicas para tentar retornar o osso para sua conformação normal. A cirurgia foi um sucesso, e os cuidados pós-operatórios foram fundamentais para recuperação da Rubi, que terá uma qualidade de vida muito maior daqui em diante.

Após a remoção das placas metálicas, a tão esperada alta aconteceu. E, por isso, no dia 5 de julho, a Rubi voltou para casa em condições absolutamente favoráveis para que tenha uma vida normal.

Meses de convivência: como foi para os estudantes o tratamento da Rubi?

O caso de uma bezerra acometida por uma alteração tão grave e rara foi motivo de união de esforços de uma equipe composta por médicos veterinários e estudantes de Medicina Veterinária da Univiçosa. Todos os envolvidos tiveram momentos de muito aprendizado, desde a recepção da Rubi, até a realização da cirurgia e os cuidados pós-operatórios.

De acordo com os professores Guilherme Fausto e Pedro Henrique de Araújo, a Rubi foi utilizada durante as aulas práticas das disciplinas de Clínica Médica de Grandes Animais e Patologia Cirúrgica de Grandes Animais. Durante as aulas, os alunos puderam realizar diversos exames na bezerra. O caso também foi tema de discussões em sala de aula, como a utilização de FIV na reprodução, fases do desenvolvimento embrionário, problemas no parto, técnicas cirúrgicas, cuidados pós-operatórios e utilização do raio-X em Medicina Veterinária. Além disso, os estudantes puderam acompanhar e auxiliar o procedimento cirúrgico.

Segundo os professores, trabalhos como este são realizados diariamente na Clínica e Cirurgia de Grandes Animais do Hospital Veterinário da Univiçosa, pelos veterinários, professores e alunos que participam do projeto de extensão do setor. Graças a estes discentes, que auxiliam diuturnamente o funcionamento do Hospital, a realização de procedimentos de alta complexidade se torna possível. Sem o apoio desta equipe nada disso seria possível.

De acordo com o Coordenador do Hospital Veterinário, professor Guilherme Castanheira, a principal função das Clínicas é proporcionar um volume satisfatório de casuísticas para alunos em projetos de extensão, estágio obrigatório e não obrigatório. Esta prática é imprescindível para a formação de um profissional diferenciado.

O caso da Rubi vai virar TCC!

O caso da Rubi será descrito em um relato de caso que será tema de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e possíveis trabalhos em eventos da área.

O TCC está sendo feito pela estudante Amanda Coelho Gomes. Segundo ela, a ideia surgiu devido ao caso não ser muito recorrente e mediante as causas dessa anomalia não serem completamente esclarecidas. Nesse sentido, a estudante considera clara a necessidade de mais estudos a respeito deste tema.

A estudante é monitora da disciplina Patologia Cirúrgica de Grandes Animais e acompanhou aulas práticas em que a Rubi foi o tema de estudos e discussões. Por isso ela fará uma analise das possíveis causas da alteração, comentando sobre a etiologia e descrevendo a cirurgia necessária para correção da fratura. A estudante também pretende relacionar o quadro da Rubi com os possíveis impactos gerados e suas influências sobre a bovinocultura de corte.

Segundo a estudante, “atuar no Hospital Veterinário com serviços de Clínica e Cirurgia de Pequenos e Grandes Animais foi conclusivo para a decisão a respeito de qual área eu seguiria depois de formada. Além disso, os aprendizados diários foram determinantes para minha formação e todo conhecimento que adquiri até hoje. Ter as duas Clínicas dentro da Faculdade foi de extrema importância, me permitindo presenciar diferentes casos e colocar em prática os conhecimentos teóricos adquiridos durante toda minha graduação, o que é essencial para a boa formação de um Médico Veterinário”.

Com a palavra, alunos extensionistas da Clínica:

 “O caso da bezerra foi um grande aprendizado, devido à sua complexidade e por não ter quase nenhum relato sobre o problema. Mesmo assim conseguimos o sucesso. Na maioria das vezes casos parecidos são considerados casos perdidos.”

Lucas Andrade Rosa (Aluno extensionista do 6º período)

 “O caso da Rubi foi muito interessante para todos nós. Eu nunca tinha visto algo igual na literatura. Agradeço aos veterinários do Hospital pela oportunidade dessa experiência.”

Amanda Calais Campos Franco (Aluna extensionista do 7º período)

“Durante este período, tivemos casos incríveis que contribuíram de forma inigualável para o nosso crescimento pessoal e profissional. Um deles foi o da bezerra Rubi, que ficou sob nossos cuidados por muito tempo. Ver a evolução do seu caso, a sua recuperação, e as condições em que ela chegou e como está hoje, é completamente satisfatório, por saber que todo nosso esforço e cuidado valeram a pena. A recompensa é vê-la saudável, correndo e pulando para todo lado. Isso é que vale a pena!”

Camila Paula de Oliveira Sá (Aluna extensionista do 5º período)

Você conhece o Hospital Veterinário da Univiçosa?

O Hospital Veterinário foi fundado em 2007 com o objetivo de ser um laboratório para os estudantes do curso, e desde então vem ampliando os atendimentos e serviços oferecidos. O Hospital conta com a Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais e a Clínica e Cirurgia de Grandes Animais.

Além das aulas práticas de diversas disciplinas, o Hospital possui capacidade para atendimentos de rotina a pequenos e grandes animais. São atendidos diariamente casos variados e a maior parte dos pacientes residem em cidades que estão localizadas em um raio de até 150 km de Viçosa.

Além dos professores, o HVO conta com uma equipe própria de médicos veterinários e outra terceirizada. Todos os profissionais atuam em atendimentos clínicos, cirúrgicos, emergenciais, exames de imagens e laboratoriais.

É tutor de um animal que precisa de atendimento? Saiba como proceder:

Os atendimentos são agendados (dia e horário) e os profissionais que trabalham no Hospital realizam uma triagem já no primeiro contato com o tutor. O objetivo é entender a demanda para que o atendimento possa ser célere e eficiente.

Localizadas na Unidade 1 da Univiçosa, ambas as Clínicas, de Pequenos e Grandes Animais, oferecem o serviço de internação aos pacientes que precisam de cuidados intensivos durante o período necessário para uma plena recuperação.

Os contatos do Hospital Veterinário são os seguintes:

E-mail: hospitalveterinario@univicosa.com.br

Telefone: (31) 3899-8052


Fonte: https://academico.univicosa.com.br/uninoticias/noticias/caso-raro-e-atendido-na-clinica-de-grandes-animais