A trinca virtuosa da economia: segurança jurídica, poupança e trabalho produtivo

A trinca virtuosa da economia: segurança jurídica, poupança e trabalho produtivo

Por Marcos Spínola Nazareth*

Publicado em 02 de maio de 2019

Há um conjunto de elementos na estrutura cultural, social e econômica de um país que determinam o desempenho da sua economia ao longo do tempo. Em artigos anteriores destaquei a importância de alguns desses fatores para a economia brasileira[1]; [2].

Nesse sentido, existe ainda um subconjunto de três elementos que são fundamentais para que qualquer país apresente taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)[3] altas[4], consistentes e de maneira distribuída entre as classes de renda da população ao longo do tempo: (i) trabalho produtivo; (ii) alto coeficiente de poupança; e (iii) segurança jurídica.

A medição da produtividade do trabalho é dada pela relação entre bem ou serviço produzido na economia pela quantidade de mão-de-obra empregada para sua produção. Desse modo, mais produtivo o trabalho será quanto mais produto é criado com a mesma, ou com menos quantidade de horas trabalhadas. Entretanto, isso só será possível se for acompanhado por investimentos que introduzam inovações, novas tecnologias e equipamentos por um lado, aumentando a eficiência do trabalho, e, por outro, aumentando a absorção da nova produção pelo aumento da renda nacional.

Mas o requisito básico para a elevação nos investimentos é o aumento da poupança interna. O conceito de poupança é a parcela da renda dos agentes da economia (famílias, empresas e governos) não consumida[5]. Assim, alto coeficiente de poupança significa os agentes apresentarem um padrão de consumo relativamente baixo em relação as suas receitas, economizando percentual relevante. 

Contudo, fechando o “círculo virtuoso” de interação desse subconjunto de elementos, o que viabiliza a ocorrência do aumento da poupança é a existência de segurança jurídica no país. Como o próprio termo sugere, isso é simplesmente a garantia pelo sistema político-legal de que as normas, regras e contratos vigentes serão cumpridos, em qualquer momento do tempo.

Logo, a lição econômica que fica, por ora, é que cumprir contratos, poupar muito (ao invés de consumir muito, como às vezes se pensa) e ser produtivo no trabalho favorece a performance da economia. Ao se analisar o desenvolvimento da economia brasileira, notamos que esses requisitos, invariavelmente, não são preenchidos, o que explica, em parte, nossa crônica instabilidade econômica. Em artigos posteriores vamos explorar um pouco mais essas ideias.

*Professor de economia da Univiçosa e pesquisador no PAEG/UFV


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[1]https://www.univicosa.com.br/uninoticias/noticias/o-emprndedorismo-como-fator-institucional-de-desenvolvimento-do-brasil.
[2]https://www.univicosa.com.br/uninoticias/noticias/a-importancia-do-mercado-de-capitais-para-a-economia-brasileira.
[3]Medida convencional de criação de riqueza de um país em determinado período de tempo. No Brasil, os dados oficiais do PIB, em nível nacional e regional, são divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
[4]Pode-se considerar uma taxa de crescimento do PIB acima de 5% como alta.
[5]Que pode ser direcionada para o mercado de capitais a fim de financiar investimentos privados em novos negócios.


Fonte: https://academico.univicosa.com.br/uninoticias/noticias/a-trinca-virtuosa-da-economiaseguranca-juridicapoupanca-e-trabalho-produtivo