Daniel Silva Jaques: Engenheiro Ambiental, Mestre em Geotecnia. Professor do curso de Engenharia Ambiental da Univiçosa.
Em tempos de crise hídrica, por que o Brasil ainda é considerado a “caixa d’água do planeta”!
O potencial hídrico subterrâneo do Brasil chama a atenção, pois somos detentores das maiores reservas de água subterrânea passível de ser extraída no mundo perfazendo 112 trilhões de metros cúbicos de água, o equivalente a 20% de toda a água subterrânea do mundo.
Até 2010 o Brasil tinha um dos maiores aquíferos do mundo - aquífero Guarani - que se estende desde o Mato Grosso até o Uruguai, perfazendo 8 estados brasileiros e 4 países e, segundo os pesquisadores, possui um volume de 48 trilhões de metros cúbicos de água reservada. Só este grande reservatório já nos dava o título de “país das águas subterrâneas”.
Mas, recentemente, em 2011, pesquisadores recalcularam e reclassificaram vários sistemas de aquíferos do Norte do país (Acre, Solimões, Amazonas e Marajó) unificando-os em um único sistema intitulado de Grande Amazonas, com um volume de água 3,5 vezes maior que do aquífero Guarani, sendo considerado o maior reservatório subterrâneo de água doce do mundo com 160 trilhões de metros cúbicos de água que dariam para abastecer a população mundial por, pelo menos, 250 anos.
Apesar de termos grandes sistemas de aquíferos, ressalto que existem limitações à exploração da água subterrânea, a começar pelas condições geológicas de alguns aquíferos, a escassez de conhecimento sobre o comportamento destes aquíferos, a falta de investimento em técnicas adequadas para construção de poços, e a contaminação do recurso por algumas das atividades humanas tais como a agricultura, a distribuição e comercialização de combustíveis, os polos industriais e as minerações, cada uma com alguma parcela de contribuição para a entrada de materiais poluentes no solo que, com a água de infiltração da chuva, acabam chegando aos aquíferos.
Além disso, no que diz respeito à demanda hídrica da população, apesar de termos grandes volumes de água subterrânea, a distribuição espacial dos aquíferos não acompanha a distribuição geográfica da concentração populacional. Por exemplo, o aquífero Grande Amazonas está localizado em uma região onde reside apenas 5% da população brasileira.
A água subterrânea não é um “rio subterrâneo”, pois ele não corre livremente. Nos aquíferos a água subterrânea migra lentamente ao longo dos poros e fissuras das rochas (minúsculos vazios interconectados – menores que 1 grão de areia) e que, por esse motivo, sua retirada não é tão fácil e depende da velocidade que a água migra no aquífero (nos bons aquíferos - os mais porosos - a água migra a uma velocidade média de 0,01 cm/s, muito inferior à velocidade da água dos rios), e das tecnologias disponíveis para extraí-la de lá.