Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental: Professor Marcelo Libanio (Recuperação de Áreas Degradadas e Sistemas Integrados de Gestão); Professora Sandra Libanio (Processos de Auditoria e Certificação Ambiental; Ética Ambiental)
Estamos em meio a uma das maiores crises de escassez de água de que se tem notícia. Onde isso nos afeta? Para conhecer os efeitos dessa situação, os alunos do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental, que cursam as disciplinas Recuperação de Áreas Degradadas e Sistemas Integrados de Gestão; Processos de Auditoria e Certificação Ambiental; e Ética Ambiental, foram verificar isso “in loco” na Usina Hidrelétrica (UHE) Risoleta Neves – Consórcio Candonga, no município de Rio Doce, próximo a Ponte Nova, nesta sexta-feira (31), a duas horas de Viçosa.
Alunos e professores foram recepcionados por funcionários da Usina e assistiram a uma apresentação sobre a Recuperação de Áreas Degradadas da usina, hoje concentrando esforços na recuperação de taludes com uso de biomantas e na recuperação de áreas solapadas por excesso de umidade e pela ação das marolas no entorno do lago da UHE. Além disso, foram apresentados: a visão do Sistema de Gestão Ambiental (SGA) da UHE; e os passos para a certificação ISO 14000, com aspectos relacionados à documentação desse sistema e do planejamento para que isto ocorra. Interessante observar que, em ambas as apresentações, os conteúdos conferem com o que é ministrado nas aulas das disciplinas que organizaram a visita.
Mas, onde isto nos afeta? Das três turbinas que deveriam estar em operação, apenas uma funciona neste momento. A Barragem que funciona a fio d’água com acúmulo não superior a um metro, despejada nas 3 turbinas Kaplan, gera a plena potência, 140MW. Com a atual vazão do Rio Doce/Piranga, somente 20MW estão sendo gerados. Se todos os lagos de todas as usinas hidrelétricas do país forem submetidas e esse extremo regime de escassez hídrica, estamos a caminho de um “blackout” ou apagão, na medida em que a demanda é maior que a oferta, todo o sistema entra em pane. Onde está o problema? A complexidade é grande, mas não precisamos ir muito longe. Atualmente, esse extremo de escassez hídrica reflete a extrema atividade solar associado aos efeitos do El Nino que aquecem as águas oceânicas e alteram o regime pluviométrico. Está fora do controle antrópico, são as forças da natureza e seus ciclos. Todavia, a minimização desses efeitos deve ser observado nas sub-bacias hidrográficas, unidades básicas de planejamento e gestão de recursos hídricos e naturais, onde as populações de agricultores vivem e fazem uso desse recursos, amargando o ônus pela gestão. A sociedade quer água em quantidade e qualidade, mas não paga por serviços ambientais a esses agricultores. O ciclo hidrológico é rompido via desmatamento, o solo é empobrecido via ocupação desordenada, acima da capacidade de suporte dos ecossistemas, comprometendo a resiliência natural desses ecossistemas.
Precisamos urgentemente pensar na construção de soluções concebidas socialmente, na representatividade mais efetiva desses contextos socioeconômicos e ambientais que são as sub-bacias hidrográficas, pequenos córregos e ribeirões; por exemplo, o Ribeirão São Bartolomeu, em Viçosa. E, além disso, é essencial contar com a participação mais propositiva da sociedade e das instituições de ensino públicas e privadas, das empresas e dos Comitês de Bacias Hidrográficas (CBH’s) e entidades representativas de agricultores familiares.
Nossos alunos viram os efeitos dramáticos que pode advir sobre a sociedade como um todo, diante da fragilidade de nossa matriz energética, tão desprovida de instrumentos de gestão efetiva e planejamento, com homologação social, a partir da própria sociedade e suas organizações. Não há salvador da pátria que dê jeito nestas situações que misturam efeitos naturais com o não gerenciamento da ocupação do território.