Adonai Fineza: Engenheiro Civil, Doutor em Geotecnia. Gestor do curso de Engenharia Civil da Univiçosa e professor de Patologias das Construções e Mecânica dos Solos
Sobre o rompimento das barragens da Samarco no distrito de Bento Rodrigues em Mariana (MG), na tarde de 5 de novembro, precisamos compreender algumas coisas. Uma barragem de rejeito é construída para reservar o efluente gerado pela lavagem do minério. Nesse rejeito não há elementos tóxicos, mas ele contém ferro, sílica, amido, manganês, alumínio e outros elementos geralmente presentes onde se encontra o minério de ferro. O grande problema, portanto, é a alta turbidez gerada pela lama: muito material sólido suspenso na água, o que dificulta a oxigenação. A consequência é a mortandade de espécies aquáticas, além, naturalmente, das vítimas geradas pela onda de lama.
Ocorreram alguns abalos sísmicos, terremoto de baixa intensidade, por volta das 14hs, o que levou a instabilidade da barragem e seu consequente rompimento devido ao colapso da estrutura. Muitas podem ser as causas prováveis da geração deste sismo induzido, o que só poderá ser afirmado após um laudo técnico da catástrofe. Hoje a engenharia possui tecnologia para determinar com rapidez o verdadeiro motivo do colapso. As barragens foram auditadas e se encontravam estáveis, o que leva a crer que realmente a causa do rompimento foi o sismo.
O colapso das barragens se deu provavelmente pela liquefação do material suporte da barragem, ou seja, a perda de resistência do material, fazendo com que esse material ficasse como areia movediça: o material perde propriedade de sólido e passa a ter propriedades de líquido, devido ao carregamento. E a barragem estava em processo de alteamento, ou seja, sua altura vinha sendo aumentada para ampliar a capacidade do reservatório. Isso sobrecarregou o material suporte.
A maior preocupação é a barragem de Germano que se encontra a montante da barragem de Fundão, pois um dos sismos, de 2,6 graus de magnitude, com certeza atingiu a barragem de Germano e Santarém. A pergunta é se o sismo instabilizou estas barragens ou não. O monitoramento deve ser intenso e ininterrupto no corpo dessas barragens, para que, caso ocorra outra catástrofe, a população da área próxima seja imediatamente avisada e se possa evacuar a área sem riscos de perdas humanas.
Devido à grande importância que tem um projeto de barragem, o curso de Engenharia Civil da Univiçosa possui, em sua grade, a disciplina obrigatória de Barragens, que capacita o futuro profissional a realizar um projeto estrutural ambientalmente correto e estável, capaz de garantir a segurança das populações próximas.