Mastite em novilhas exige atenção

Mastite em novilhas exige atenção
Publicado em 13 de outubro de 2010

Mastite causa prejuízos na produção leiteira

* Adriano França da Cunha

Como é de conhecimento de veterinários e produtores, mastite é a inflamação da glândula mamária, geralmente ocasionada por microrganismos. Sem dúvida alguma, esta enfermidade é uma das principais causas de perdas econômicas na bovinocultura leiteira. Em razão disto, muitas pesquisas têm sido realizadas e muitas medidas de prevenção e controle têm sido aplicadas durante o período de lactação das vacas. No entanto, a prevalência desta doença em rebanhos ainda continua sendo alta.

Será que as ferramentas de controle e prevenção da doença estão sendo aplicadas de maneira certa e no momento correto? De acordo com muitos médicos veterinários e produtores, estas ferramentas devem ser revistas urgentemente. Um dos motivos é a preocupação com a mastite em novilhas. Não se pode apenas esperar que o animal inicie a lactação para se preocupar com medidas de controle da doença. A infecção pode ter ocorrido em momento anterior ao da primeira lactação e, portanto, as lesões podem já ser irreversíveis, comprometendo a produção de leite futura.

Há pouco tempo acreditava-se que as taxas de infecções intramamárias em novilhas vazias e gestantes eram baixas. Entretanto, vários estudos têm demonstrado alta prevalência de infecções intramamárias em novilhas (25,4 a 87,7%) durante a gestação, no momento do parto e/ou no início da lactação. Os patógenos envolvidos são vários, como: Staphylococcus aureus, Staphylococcus spp. coagulase negativa, Streptococcus spp., Escherichia coli, Corynebacterium spp., Arcanobacterium pyogenes, dentre outros. Entretanto, variações na distribuição dos microrganismos ocorrem de acordo com a localização, condições clínicas, manejo do rebanho e com a estação do ano.

As novilhas podem se tornar susceptíveis aos patógenos da mastite à medida que começam a produzir secreções mamárias, ainda bem cedo, ou seja, de seis a oito meses de idade. Não se sabe ao certo como as novilhas se infectam, mas as fontes de infecção podem estar relacionadas às bactérias que fazem parte da microbiota normal da pele dos tetos; bactérias que habitam as cavidades orais de bezerras e que mamam em outras bezerras; bactérias presentes no ambiente de novilhas como aquelas encontradas no solo, no esterco e no material das camas e ainda, às bactérias veiculadas por moscas como, por exemplo, a mosca do chifre. Estas fontes devem sempre ser consideradas para o desenvolvimento de medidas estratégicas de controle e prevenção da mastite.

A mastite em novilhas pode ser identificada por meio da avaliação da glândula mamária e das características de sua secreção. Úberes inchados, endurecidos e avermelhados são indicativos da doença. Secreções finas, aquosas e contendo coágulos e flóculos podem sugerir infecção e devem ser submetidas à amostragem e cultura, visando identificar a presença de patógenos. Além destes parâmetros, a contagem de células somáticas, indicativas de mastite, deve ser realizada em leite de novilhas primíparas. Esta contagem deve ser inferior à de vacas multíparas e caso seja superior a 140.000 células/mL, isto pode sugerir mastite.

As medidas de controle e prevenção de mastite em novilhas consistem em: manter novilhas em locais limpos, secos e separadas de outros animais; monitoramento da contagem de células somáticas do leite aos 15 dias após o parto; não fornecer leite de vacas com mastite e com resíduos de antimicrobianos para bezerras; tratamento com antimicrobianos no período pré-parto (60 dias antes do parto) e durante a lactação; utilizar selantes de tetos 60 dias antes do parto; estimulação do sistema de defesa imunológico por meio de programas de vacinação e nutrição adequados; evitar que bezerras mamem uma na outra, mantendo-as em casinhas individuais; controle de moscas; evitar distúrbios do período peri-parto pela possível associação destes problemas com mastite; realizar ordenha diária duas semanas antes do parto a fim de reduzir edema intramamário (estratégia ainda em estudo).

As novilhas representam o futuro estoque de produção de leite da fazenda e não são livres de mastite, como se pensava antigamente. É importante o produtor e o veterinário estarem atentos ao problema, uma vez que o percentual de animais com infecção intramamária é elevado, podendo levar a uma redução significativa na produção e na qualidade do leite. Garantir o bem-estar e a saúde de novilhas representa maior produtividade e rentabilidade da atividade leiteira.

Professor de “Inspeção de Leite e Derivados” no Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde, mantida pela Univiçosa


Fonte: https://academico.univicosa.com.br/uninoticias/acervo/80e5a4f0-2139-470b-a94e-a237b8031b66