Jaqueline Carrara Folly Valente: Enfermeira Obstetra, Especialista em Ginecologia e Obstetrícia, Professora do Curso de Enfermagem da Univiçosa
A obesidade é uma doença complexa que se caracteriza pelo excesso de gordura acumulada no organismo. Trata-se de um desvio nutricional que está aumentando no Brasil e no mundo, tornando, dessa forma, um grave problema de saúde pública dentre o grupo de Doenças Crônicas Degenerativas, pois afeta todas as faixas etárias e grupos econômicos.
A obesidade mórbida é considerada uma epidemia na América do Norte e em vários países do mundo, sendo considerada de origem multifatorial, tais como: metabólica, alterações endócrinas, genéticas, ambientais e psicológicas. Tal doença acarreta prejuízos para a saúde do indivíduo, estando intimamente relacionadas ao aparecimento de hipertensão arterial, dislipidemias, diabetes tipo II, coronariopatias, dentre outros. Ocorrendo também prejuízos e consequências sociais e psicológicas graves.
O desequilíbrio entre as calorias consumidas e as calorias gastas é um dos principais fatores que levam ao aumento do peso. O aumento do consumo de alimentos com maior densidade calórica, ricos em açúcares e gordura e pobres em vitaminas, minerais e outros micronutrientes, e a tendência à diminuição das atividades físicas diárias, devido ao sedentarismo de muitas formas de trabalho, diversão, modalidade de transporte e ao crescimento urbano, são fatores que promovem o desenvolvimento da obesidade.
O tratamento para perda e manutenção do peso depende muito da mudança inicial de comportamento, como aumento da atividade física, modificações nos hábitos de vida, dietéticas e culturais, além disso, o tratamento está associado ao benefício físico, psicológico e social.
Dentre os tratamentos medicamentosos muitos demonstraram resultados desapontantes, uma vez que grande parte dos pacientes recupera, em 3 a 5 anos, parcialmente ou totalmente, o peso perdido.
Outra forma de tratamento que vem sendo adotada nos dias atuais é a cirurgia bariátrica, que assim como as formas citadas anteriormente, vem sendo uma ferramenta eficaz no controle e tratamento da obesidade mórbida. Dentre seus principais benefícios, pode-se salientar a perda e manutenção de peso em longo prazo, melhora das comorbidades, tais quais diabetes, hipertensão, colesterol elevado, apneia do sono, incontinência urinária, dores de cabeça crônicas, doenças do fígado, artrites associadas e consequente melhora na qualidade de vida.
O tratamento cirúrgico é oferecido a pacientes gravemente obesos e conscientes da cirurgia. São possíveis candidatos os pacientes portadores de obesidade mórbida de Índice de Massa Corporal (IMC) maior que 40 Kg/m2, estando presentes, há mais de cinco anos e com insucesso nos tratamentos anteriores, e pacientes com IMC entre 35 e 39,9kg/m2 portadores de doenças crônicas agravadas pela obesidade, tais como hipertensão, dislipidemias, diabetes tipo II, apneia do sono, entre outras. A cirurgia bariátrica não tem objetivo meramente estético, seu intuito é o de reduzir a mortalidade e a morbidade numa população específica.
A cirurgia bariátrica é responsável por uma série de alterações físicas e psíquicas vivenciadas pelos pacientes que se submetem a tal procedimento. Os avanços cirúrgicos e anestésicos, com o acréscimo de mudanças na demografia e os níveis de obesidade dos pacientes, têm aumentado à necessidade de cuidados de enfermagem eficazes e vigilantes.
No Brasil, o avanço das técnicas cirúrgicas e a popularização da cirurgia promoveram a expansão dos cuidados de enfermagem para essa clientela. A equipe de enfermagem necessita também estar capacitada e ser conhecedora das especificidades deste paciente. Uma vez habilitada, haverá possibilidade de investigar, diagnosticar, planejar, intervir e avaliar os resultados do paciente de forma criteriosa.
Como membro da equipe multidisciplinar, o enfermeiro deve assegurar cuidados e educação em saúde, com vistas a prevenir complicações, determinando o bem estar e auxiliando o paciente na sua adaptação a nova maneira de viver. Espera-se que este profissional seja capaz de identificar adequadamente os problemas do paciente submetido à cirurgia bariátrica, devido aos riscos cirúrgicos, pelas comorbidades associadas à condição clínica de obesidade e, programar soluções adequadas.
O cuidado do profissional de enfermagem compreende não só a dimensão técnica, mas também social e cultural, com ênfase nos aspectos biológicos e funcionais, buscando promover a vida, o bem-estar do ser humano e sua integridade.
O Processo de Enfermagem oferece subsídios para nortear o enfermeiro no planejamento e implementação de assistência segura e de qualidade, sendo essas condições necessárias para que o cuidado aconteça. É imprescindível que o enfermeiro se familiarize e aprenda sobre obesidade para aprimorar seu cuidado junto ao paciente e sua família.
Para que o Processo de Enfermagem tenha resultado efetivo, o enfermeiro necessita ter conhecimento e habilidades que lhe permitam estabelecer diagnósticos acurados e intervenções apropriadas a cada caso, com vistas a resultados positivos. Esse método compreende a adoção de determinado modo de pensar e fazer, embasado em um sistema de crenças e valores morais e em conhecimentos técnico-científico da área.
Outra atividade a ser enfatizada como necessária à execução de assistência segura e de qualidade é a confecção e implantação de Protocolo de Assistência de Enfermagem embasado em evidências oriundas de resultados de pesquisa pode ser uma ferramenta que auxilie a tomada de decisão do enfermeiro na prática clínica. Este protocolo deve abranger os cuidados específicos que contemplam as necessidades físicas e emocionais do paciente submetido à cirurgia bariátrica, aspectos da segurança, preparo para a alta hospitalar e cuidados domiciliares.
A enfermagem precisa ganhar identidade no manuseio do cuidar.