Ontem (5) teve sequência o Ciclo de Palestras do Uninea (Núcleo de Educação Ambiental da Univiçosa). Na Unidade 2, o Professor Marcelo Libanio, do curso de Gestão Ambiental, proferiu a palestra “Segurança Hídrica em Viçosa”. Participaram alunos e os professores Glauco Canevari e Sandra Libanio.
Marcelo Libanio promoveu uma discussão dialogada envolvendo muitos pontos polêmicos, propiciando intenso debate acerca das questões ambientais, seus mitos e as possíveis soluções para o problema da segurança hídrica no município de Viçosa.
Um tema que gerou bastante debate foi a questão de cercamento de nascentes para a produção de água. Do ponto de vista técnico, cercar nascentes tem por objetivo evitar o pisoteio por animais e a consequente compactação do solo. “Além disso, ao cercarmos nascentes evitamos a contaminação das águas por fezes e urina de animais nas fontes de água. Todavia, essa ação prevista em lei não tem por função produzir água, mas simplesmente permitir sua saída”, explica o Professor. “Isto nos leva a pensar sobre o que é uma nascente. Uma nascente que mina água é o transbordamento do aquífero ou do lençol freático. Na realidade se quisermos produzir água precisamos recarregar os aquíferos e encher a caixa d´agua que é o solo. Se os aquíferos transbordarem as nascentes minarão água. Então, cercar nascentes não implicará na recarga dos aquíferos e sim na possibilidade da água armazenada no aquífero fluir livre e naturalmente”.
Fazer a recarga dos aquíferos é simples
Segundo Marcelo Libanio, a primeira coisa a ser feita é localizar a sub-bacia hidrográfica em que a propriedade se localiza e verificar quantos proprietários compartilham do mesmo recurso hídrico e do mesmo aquífero.
Feito isso, verificar quantos proprietários dessa sub-bacia já elaboraram o CAR (Cadastro Ambiental Rural) para localizar as APP (Áreas de Proteção Permanente) e elaborar projetos individualizados, ou seja, de cada propriedade com vistas ao todo, procurando criar sinergia entre cada projeto e a sub-bacia hidrográfica.
Cada propriedade deverá adotar soluções diferenciadas levando-se em consideração características de relevo e capacidade de uso do solo, adotando a melhor e mais apropriada tecnologia de conservação de solo e água, que pode ser a construção de barraginhas, a marcação de curvas de nível com construção de barraginhas ao fim de cada curva, bacias de contenção de água pluvial e outras.
O importante, neste momento, é recarregar ao máximo os aquíferos de forma que se evite a perda da água de chuva por escorrimento superficial, tendo em vista que temos pouca vegetação e uma floresta levaria cerca de 20 anos para estar no seu clímax e cumprir funções ambientais de recarga do aquífero. As perdas por escorrimento superficial chegam quase a 70% do volume total de chuva e é praticamente impossível armazenar 100% da chuva anual. Por exemplo, fazendo uma breve analogia entre uma residência e uma sub-bacia hidrográfica, uma casa com telhado de 10m x 10m, ou seja 100m², com chuva anual de 1000mm (média esperada para este ano, caso se repitam os dois últimos anos) terá capacidade de recolher 100m³ de água por ano. Para armazenar tanta água seria necessária a construção de uma piscina de 5m x 10m x 2m. A dificuldade é a mesma quando se pensa em construção de barragens para armazenamento de superfície.
De qualquer forma, toda solução passa pela mobilização social, ou seja, a sociedade civil organizada, as instituições públicas e os proprietários rurais, na busca de definir uma problemática comum e soluções negociadas a curto, médio e longo prazos. Não existem soluções que não tenham no planejamento a sua base e a o devido acompanhamento.
O debate de ontem encerrou mais um Ciclo de Palestras, dessa vez envolvendo a Unidade 2 nas discussões sobre a questão ambiental, a escassez e segurança hídrica do município de Viçosa e região.