Luciana Pereira de Moraes, Enfermeira, Especialista em “Urgência e Emergência”, MBA em “Gestão Hospitalar” e “Saúde Pública”. Professora do Curso de Enfermagem da UNIVIÇOSA/ESUV
As mãos, o corpo e a expressividade são os principais instrumentos de educação do surdo, enquanto as mãos, o corpo e a fala são instrumentos de comunicação do ouvinte. Unir estas duas maneiras de se comunicar torna-se uma meta a ser alcançada. Pessoas surdas e pessoas ouvintes caminhando juntas na busca da vida em harmonia, de conhecimentos não apenas do dia a dia, mas também no aprendizado da vida em comunidade.
Atualmente, vários são os desafios e varias são as discussões voltadas às pessoas surdas. A palavra chave é inclusão. Mas, o que é incluir? Por que alguém necessita se sentir incluído? Como se dá essa inclusão? Qual a amplitude desta inclusão? Sentir-se incluído significa sentir-se parte do mundo ao redor, compartilhar o seu mundo e o do outro e poder se envolver em ambos e compartilhá-los.
Quando pensamos em inclusão de surdos, será que esta inclusão não fica restrita apenas ao processo de aprendizado de Libras [Língua Brasileira de Sinais] ou da Língua Portuguesa como um todo, restringindo este processo à comunicação entre os surdos ou entre estes com pessoas ouvintes? É fundamental ir além para que estas pessoas se sintam ainda mais incluídas. Há uma necessidade imbuída que vai além dos estudos na área da educação de surdos voltados para o ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa.
A Libras é uma língua de modalidade visual, espacial e gestual, o que significa dizer que as informações por ela descritas são expressas através de movimentos gestuais, expressões faciais e percepção visual, o que enfatiza não apenas a importância do movimento corporal mas também as expressões faciais. O reconhecimento da Libras como língua oficial das comunidades surdas no Brasil se deu pela Lei Federal 10.436 de 24/abril/02, e trouxe mudanças significativas para a educação de surdos ao garantir-lhes a condição de cidadãos, buscando obter resultados mais eficientes no aprendizado. Sabe-se que o processo de aprendizado depende fortemente de motivação. Pessoas motivadas terão, em pouco tempo, condições de adquirir conhecimentos básicos. Também assim o faz o surdo em relação ao aprendizado no dia a dia como um todo. Não basta alocar um surdo no mundo ouvinte sem preparar este mundo ouvinte para recebê-lo e vice-versa. Deve-se trabalhar de forma real e plena para que a inclusão do surdo se concretize e se formalize no aprendizado e na interação entre o mundo surdo e o mundo ouvinte.
A partir da análise deste contexto, somado a experiência diária no atendimento básico na urgência e emergência, nos deparamos com os seguintes questionamentos: diante de uma situação de urgência e emergência, quais as dificuldades que o surdo enfrenta quando se depara com tais situações? O surdo sabe prestar o atendimento inicial adequado? Foi treinado adequadamente para agir nestas situações? Como ele irá pedir auxílio aos serviços especializados em urgência e emergência?
Situações de urgência e emergência, pela própria natureza, são eventos inesperados e, como tais, pedem atendimento imediato. É melhor saber aplicar os primeiros socorros do que precisar deles e não saber como executá-los. Todos devem saber aplicar os primeiros socorros, porque a maioria das pessoas poderá, eventualmente, enfrentar uma situação em que será necessário prestar os primeiros socorros. Isso envolve mais do que fazer algo pelos outros. Inclui também cuidados que as pessoas podem aplicar a si mesmas, em situações de urgência e emergência. Assim, os primeiros socorros adequadamente realizados não solucionam o problema, mas permitem que a vítima aguarde ajuda em relativa segurança, nunca substituindo o atendimento médico.
A proposta de inclusão do aprendizado significativo de primeiros socorros pelo surdo trata-se inicialmente de uma pesquisa bibliográfica, exploratória e descritiva, de abordagem qualitativa, que englobe aspectos do processo de aprendizado pelo surdo, de ensino-aprendizagem de técnicas de salvamento em situações de urgências e emergências e sobre como essas técnicas podem influenciar na qualidade de vida do próprio surdo e da comunidade em seu entorno. Referencias bibliográficas foram utilizadas, houve levantamentos de publicações, cadernos científicos, análises bibliográficas de autores referentes ao tema, bem como indicações de especialistas, associações de profissionais e anais de eventos associados ao tema, mas observou-se uma evidente carência de conteúdos correlacionados, o que levou à exclusão de alguns estudos metodológicos que não atenderam aos pressupostos estabelecidos.
A partir da construção de uma metodologia diferenciada de ensino para o atendimento em urgência e emergência através da Libras se dará o acesso à pessoa surda no sentido de aprender a aplicar técnicas de atendimento básico em primeiros socorros quando, eventualmente, enfrentar uma situação em que será necessário aplicá-las. Será uma oportunidade de troca de conhecimento, com o desafio de ensinar técnicas de primeiros socorros a pessoas surdas e ainda utilizar de metodologias de ensino diferenciadas para que estes indivíduos se sintam incluídos na sociedade e, de alguma forma, supram mais esta defasagem de aprendizado, quanto à constante carência instrucional relacionada ao tema.
Esta experiência desafiadora ainda proporcionará resultados positivos, na forma de grande ensinamento em todos os âmbitos da aprendizagem significativa, despertando na sociedade o desejo de ir além das práticas tradicionais de ensino e conteúdo e suas práticas sociais.