Lúpus Eritematoso Sistêmico e Gestação

Lúpus Eritematoso Sistêmico e Gestação
Publicado em 31 de março de 2016

Foto: MorgueFile

Jaqueline Carrara Folly Valente. Enfermeira Obstetra. Professor de Enfermagem na Atenção à Saúde da Mulher.

Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença inflamatória crônica de natureza autoimune, sistêmica, de predisposição genética, hormonais, ambientais e infecciosas. Caracteriza-se pela presença de diversos anticorpos e manifestações polimorfas, períodos de maior atividade e remissões.

Apresenta como manifestações clínicas mais frequentes: lesões na pele como manchas avermelhadas no rosto e dorso do nariz, queda de cabelo; lesões isquêmicas no Sistema Nervoso Central, polineuropatias, convulsões, psicoses e cefaleia; dores e edema articular; inflamação da pleura e pericárdio; inflamação e perda da função renal; alterações sanguíneas como anemia, leucopenia e vasculites; febre, emagrecimento e fraqueza.

Acomete preferencialmente mulheres jovens, entre a segunda e quarta década de vida, podendo ocorrer alterações do ciclo menstrual na fase ativa da doença ou até mesmo menopausa precoce e, frequente associação com o ciclo gravídico-puerperal com um maior risco materno fetal. É uma doença que se for controlada e monitorada adequadamente, não irá interferir na vida de seus portadores.

O planejamento adequado da gravidez é fundamental para o sucesso da mesma. Ela deve ser manejada de forma multidisciplinar para que possam ser identificados os possíveis riscos e melhorar as consequências para a mãe e o bebê. Como os tratamentos atuais estão mais efetivos e há uma melhor compreensão da doença, já é possível identificar casos em que uma gravidez é segura. A maioria das mulheres com lúpus estável, que é definido quando há uma atividade limitada da doença, têm uma gravidez de sucesso. Apesar das fortes influências do LES sobre o curso gestacional, a gravidez não está contraindicada. É sabido que a gestação tem melhor prognóstico quando a doença está em período de remissão de três a seis meses previamente à concepção e na ausência de hipertensão.

A associação de lúpus e gestação é frequente, sendo que a presença de certos fatores favorece o aparecimento de complicações durante a gestação. Entre estes fatores pode-se citar a presença da atividade da doença durante a gravidez, nefropatia prévia, hipertensão materna e positividade para presença de anticorpos antifosfolípides.  A vigilância destas gestações mantém-se, no entanto, um desafio na prática clínica, uma vez que o LES pode afetar a gravidez, e o inverso também pode ocorrer.

Durante a gestação podem ocorrer complicações maternas e fetais, tais como: abortos, perdas gestacionais, prematuridade, restrição do crescimento intrauterino e baixo peso e presença de alterações neurológicas (déficit de atenção) em crianças filhas de mães lúpicas, que foram detectados na idade escolar.

O Lúpus Eritematoso Neonatal (LEN) é uma doença rara, caracteriza-se por um processo autoimune transitório associado à presença de auto anticorpos da mãe na circulação do bebê. Manifesta-se com presença de bloqueio atrioventricular total, manifestações cutâneas e alterações hematológicas.

Apesar das alterações fisiológicas que ocorrem durante a gravidez ou mesmo algumas complicações, como a pré-eclâmpsia, o diagnóstico das exacerbações do LES durante a gestação pode ser difícil, pois alguns dos achados habituais ou complicações da gravidez podem mimetizar sinais e sintomas sugestivos de aumento da atividade da doença lúpica. Apesar de inúmeros estudos, ainda não se pode relatar exatamente quais as complicações o LES pode ocasionar à gravidez.  Esta pode implicar o aumento da atividade da doença lúpica e causar agudizações, que se apresentam essencialmente por manifestações cutâneas, articulares, hematológicas e renais. Os períodos de agudizações podem surgir em qualquer trimestre da gestação ou no puerpério.

Alguns cuidados são importantes para que a doença permaneça sob controle durante a gestação, tais como: a gestante deve proteger-se da exposição à radiação solar ou artificial com o uso de protetor solar ou roupas leves de mangas longas, evitar estresse excessivo, ter hábitos saudáveis, acompanhamento regular com o obstetra, reumatologista e outros profissionais, além do uso dos medicamentos criteriosamente prescritos, realizar atividades físicas moderadas, incentivar a abolir o uso do tabaco, orientar quanto à importância da adoção de uma dieta balanceada e controle do peso.

Mesmo que a gestação em mulheres portadoras de LES seja considerada sempre de alto risco, se todos os cuidados forem seguidos, a grande maioria das gestações será tranquila e bem sucedida.


Fonte: https://academico.univicosa.com.br/uninoticias/acervo/4c41fdd3-5710-4644-bf62-43dc752f93e9