Os perigos do modismo para ganho de massa muscular

Os perigos do modismo para ganho de massa muscular
Publicado em 09 de junho de 2015

Busca do corpo perfeito requer cuidados (Foto: MorgueFile)


Raquel Duarte Moreira Alves: nutricionista, Mestre e Doutora em Ciência da Nutrição. Professora do Curso de Nutrição da Univiçosa

Quem quer ganhar massa muscular fica de olho nas receitinhas mágicas descritas na mídia e “prescritas” por profissionais não nutricionistas ou até mesmo por nutricionistas que falam aquilo que os marombeiros desejam escutar. No momento, dois modismos se destacam: clara de ovo crua batida em um “shake” hipercalórico e batata doce cozida ou assada. Vejamos os perigos dessas condutas.

O uso da clara de ovo crua adicionada a vitaminas ou sucos tem sido recomendado por praticantes de atividade física para o ganho de massa muscular. Alguns indicam um “shake” com 6 claras de ovos cruas, além de frutas, leite e whey protein. Alega-se que ingeri-la crua é mais saudável e beneficiaria o uso das proteínas por acharem que o cozimento da proteína afeta suas qualidades. Todavia, esse pensamento é errôneo visto que o cozimento da clara de ovo melhora a biodisponibilidade pelo trato digestório, aumentando assim absorção de seus aminoácidos. A absorção de aminoácidos da clara crua é entre 35-50% enquanto que o cozimento eleva essa absorção para até 95%. Porém, o grande perigo mesmo é que a clara de ovo crua reduz a absorção de uma vitamina chamada Biotina. A ingestão por longo prazo, ou seja, ingestão diária de tantas claras de ovo pode levar à deficiência de Biotina. Essa vitamina é essencial para o metabolismo protéico e lipídico no organismo. Sua deficiência pode causar problemas de pele (dermatites e erupções) bem como alopecia (queda de cabelo), além de aumentar o risco de conjuntivites.

Um alerta para quem já teve pedras nos rins (cálculo renal ou nefrolitíase): dietas hiperproteicas, como estas ricas em Whey protein, junto a BCAA (aminoácidos de cadeias ramificadas) e que, ainda por cima, incluem a clara do ovo no shake e muito peito de frango no almoço e no jantar, contribuem para a formação de cálculos de oxalato e de urato, ou seja, aumentam a chance de ter cálculo renal de novo. Outro perigo é para quem tem doença renal e não sabe — essa doença pode ser silenciosa! — é que o excesso de proteínas na dieta acelera a perda da função renal.

Já a moda da batata doce no café da manhã, nos lanches, almoço, jantar, ceia, e pré e pós-treino na academia esbarra numa importante pergunta: onde está a variabilidade no cardápio que fornece diferentes nutrientes essenciais? Tudo bem que a batata doce tenha efeitos bons para o organismo por ser rica em amidos resistente e fibras alimentares e, portanto um alimento de baixo índice glicêmico (que contribui para absorção mais lenta da glicose e liberação mais lenta de insulina). Mas existem outras opções de alimentos ricos em fibras e de baixo índice glicêmico que podem ser adicionados à dieta de modo a haver variabilidade na oferta de nutrientes. Essa prática de consumir batata doce o dia todo, além de deixar a alimentação monótona e pouco atrativa, deixa a dieta mais difícil de ser seguida e pode levar a deficiências nutricionais, pois a dieta boa de verdade é aquela que conseguimos seguir por longo período, não causa deficiências nutricionais e seus benefícios se prolongam por longo tempo.


Fonte: https://academico.univicosa.com.br/uninoticias/acervo/41384818-1b93-4e90-8e76-0e953315610d