Ricardo Antônio Zatti*
No ambiente hospitalar, a utilização de medicamentos representa a principal intervenção terapêutica oferecida aos pacientes. Nos últimos anos têm-se verificado que, associado à má administração de medicamentos em hospitais, tem aumentado o número de intoxicações medicamentosas e reações adversas. Estima-se que entre a dispensação e a administração de uma dose do medicamento existam de 25 a 30 procedimentos diferentes, que incluem a prescrição médica, a separação, distribuição e administração no paciente. Tudo isso, associado ao estado clínico do doente e ao fato de que pacientes hospitalizados recebem em média 10 medicamentos por dia, contribui para complicações clínicas que estão relacionadas a erros de medicação, que comprometem a saúde e o bem estar do paciente.
Os erros de medicação são eventos adversos relacionados à administração incorreta ou inadequada de medicamentos. São ocorrências graves que podem provocar sérios agravos na saúde de pacientes, resultando em maior tempo de hospitalização e aumentando os gastos com saúde pública. Nos Estados Unidos, estima-se que erros de medicação ocasionem cerca de 7 mil mortes/ano, índices que ultrapassam o número de óbitos por acidentes de trânsito, câncer e AIDS. O Brasil está entre os países em que são notificados os maiores índices mundiais de erros de medicação. A situação no Brasil ainda é um pouco mais complicada que em outros países latino-americanos: não há um registro eficiente de erros de medicação e os estudos relacionados aos erros de medicação ainda são incipientes.
Os principais erros de medicação, mais comuns em ambientes hospitalares são:
Erros de prescrição: seleção incorreta dos medicamentos pelo prescritor, prescrição ilegível ou prescrições que induzem a erros;
Erros por omissão: o profissional de saúde não administra uma dose prescrita a um paciente;
Hora de administração errada: administração do medicamento fora do período de tempo pré-estabelecido no horário programado de administração, podendo ser antecipação ou atraso de dose;
Medicamento não prescrito: administração ao paciente de medicamento não prescrito;
Erro de dose: administração ao paciente de uma dose maior ou menor da que foi prescrita;
Forma Farmacêutica errada: administração ao paciente de uma forma farmacêutica diferente da que foi prescrita;
Preparação errada do medicamento: medicamento incorretamente formulado ou manipulado antes de sua administração;
Medicamento deteriorado: administração de medicamento vencido ou que a integridade física ou química tenha sido alterada;
Falha do cumprimento do tratamento pelo paciente: cumprimento inadequado ou não realizado pelo paciente;
Os erros fazem parte da natureza humana, mas em se tratando da saúde das pessoas, podem ter consequências severas. A estratégia a ser adota pelos estabelecimentos de saúde deve ser focada na prevenção destes erros e inclui a criação de programas de segurança para melhorar o sistema de utilização de medicamentos, com participação de equipes multiprofissionais.
Neste contexto, o farmacêutico hospitalar e o farmacêutico clínico têm papel fundamental na prevenção e redução de erros de medicação em hospitais e clínicas. A sua prática profissional inclui o gerenciamento de medicamentos e avaliação das prescrições médicas, devendo, ainda, contribuir para o uso racional de medicamentos.
Os farmacêuticos inseridos na equipe multiprofissional (Comissão de Farmácia e Terapêutica do Hospital) poderão atuar na prevenção dos erros, interferindo na prescrição que está sendo redigida, revendo prescrições antes de dispensar os medicamentos e interferindo junto à equipe de enfermagem na segurança durante a administração de medicamentos. O farmacêutico é peça fundamental nos processos de assistência ao paciente hospitalizado.
* Farmacêutico, Mestre em Ciências Farmacêuticas. Gestor do Curso de Farmácia da Univiçosa/Esuv